Coleção em Ação: Falcon e os Comandos em Ação

Quem leu a matéria sobre os Comandos em Ação/G.I Joes, sabe que sou apaixonado por essa franquia. E essa paixão não está restrita à escala 3 3/4, pois, se os Joes são o que são hoje, devem em parte aos seus ancestrais de 12 polegadas (30 centímetros para os brasileiros). Se você também é fã dos G.I joes, Falcon, ou simplesmente gosta de action figures, puxa uma cadeira e vamos conversar.

Meu primeiro contato com um Falcon foi meio estranho. Lembro que estava na casa de primos, quando vi jogado dentro de um cesto de brinquedos um boneco barbudo, sem roupa alguma (sinistro). Remexendo no cesto, fui encontrando os equipamentos e roupas que serviriam no "peladão": botas, calça e jaqueta camufladas e um rifle. O personagem agora estava fardado e pronto para a ação. Não consegui brincar muito, pois meu primo era daquelas crianças ~~egoístas~~ ciumentas com seus brinquedos e logo o tomou de mim, apenas para jogar de volta no maldito cesto. Dias depois, entrando com minha mãe em uma loja HM, ou Hermes Macedo (alguém lembra?), vejo ao lado de um Batmóvel da Gulliver, um boneco idêntico ao do meu primo. Neste dia descobri o nome dele: Falcon. Lembro ainda que na caixa tinha os dizeres "olhos de águia". Creio que esse momento foi ímpar para influenciar na minha futura vida de colecionador. O problema é que era muito caro e não adiantou espernear, não consegui levar para casa. Para falar a verdade, só tive dois Falcons durante toda a minha infância: um Condor, amigo do Falcon, que troquei por diversos outros brinquedos (primórdios das negociações de toys) e um Falcon Mergulhador, que ganhei de natal. Confesso que fiquei um pouco decepcionado, pois queria um Falcon Soldado, mas acabei ganhando um com uma roupa estranha (hoje sei que era um escafandro), acompanhado de um polvo medonho que logo joguei fora (senti uma pontada no coração enquanto digitava essa frase). Pois bem, o tempo passou e como relatado anteriormente, meu contato maior com a linha Joe foi na escala 3 3/4. Somente muito tempo depois, fui descobrir que Falcon era na verdade ancestral de Duke e companhia.

Falcon, G.I Joe no original, foi lançado pela Estrela no final dos anos 70, tendo seu auge no início dos anos 80. Nos Estados Unidos, a série é bem mais antiga, tendo sido lançada em 1964, com produção até 1976. Ou seja, só veio para o Brasil depois que já tinha saído de linha na terra do Tio Sam. Segundo dados da comunidade "Falcon 80", a Hasbro só demonstrou interesse no mercado internacional por culpa da crise do petróleo que acometeu os EUA no final dos anos 70. Bom, se foi isso mesmo, o azar dos norte-americanos foi a nossa sorte, pois a série foi um sucesso no Brasil, saindo com o subtítulo "Comandos em Ação". Esse nome, porém, logo foi retirado das caixas, permanecendo apenas o nome Falcon. Por isso a demora dos brasileiros, como este que vos escreve, em associar as duas linhas de brinquedos do mesmo universo. Como característica e atrativo principal, a linha de brinquedos tinha o tamanho, as articulações e a possibilidade de trocar as roupas e armamentos, além de ter aparência real na barba e nos cabelos (graças a flocagem, algo inédito até então para brinquedos de menino). Outra lembrança que acredito que todos tenham do Falcon, era o seu famoso "olho de águia", tudo isso porque algumas séries vinham com um mecanismo que nos permitia movimentar os olhos do herói. Falcon acompanhava as tendências da moda. Quando foi lançado, tanto no Brasil quanto nos EUA, a linha de figuras era voltada para o tema militar, pois a guerra do Vietnã ainda estava em voga. Com o passar do tempo, Falcon ganhou companheiros e passou a ser aventureiro, seja em terra, mar ou ar. Podíamos ter Falcons alpinistas, mergulhadores, exploradores de caverna e por ai vai. Também tivemos Falcons lutadores de Kung-Fu e espiões, lembrando que filmes de artes marciais e do agente 007 ditavam moda nos anos 70. O auge do personagem no Brasil foi a linha futurista, inspirada pelo sucesso da série de filmes "Guerra nas Estrelas" (na época não tinha essa frescura de só chamar de Star Wars) e também da série televisiva do Buck Rogers. Nesse período, a Estrela, em um rompante criativo, brindou os fãs (e futuros colecionadores) com três criações fantásticas: Condor, o amigo cibernético do herói, que dizem as más línguas foi rejeitado pelas crianças no lançamento, porém logo caiu no gosto popular; o vilão Torak, claramente inspirado no Darth Vader; e também o ajudante Roboy, afinal se Luke Skywalker e Buck Rogers tinham seus pequenos ajudantes robóticos, por que isso seria diferente com o heróico Falcon? Hoje esses três personagens são disputados à tapa por colecionadores do mundo todo. Falcon também tinha uma extensa linha de veículos futurísticos, tanques de guerra, jeeps e helicópteros, para não citar muitos outros. O problema é que, ao contrário da vindoura linha 3 3/4, onde os personagens eram feitos em sintonia com os veículos, na linha Falcon os heróis sofriam de "gigantismo" em relação aos seus meios de transporte. Claro que hoje em dia isso pouco importa, pois são itens valiosíssimos para se ter em qualquer coleção.

Falcon e ~~C3PO~~ Roboy

Falcon e a onda futurística

Meu nome é Colton, Joe Colton

Falcon - Multimissão

O herói foi sucesso em diversos países. Foi lançado na Inglaterra ainda nos anos 60, onde ficou conhecido como Action Man (marca muito famosa por lá até hoje), nome também utilizado na Alemanha e outros países da Europa. Já no oriente, mais precisamente no Japão, a série em escala 1/6 foi rebatizada de Combat Joe, fazendo relativo sucesso nos anos 80. Só como curiosidade, o Japão também ganhou uma wave da linha 3 3/4, porém esta manteve o nome G.I Joe, graças a uma parceria entre Hasbro e Takara.

E como prova de que Falcon foi uma franquia de muito sucesso no início dos anos 80, ganhou uma infinidade de quinquilharias: histórias em quadrinhos, lancheiras, mochilas, cadernos, jogos de tabuleiro e tudo mais que fosse atrativo o suficiente para que as crianças da época perturbassem seus pais até que abrissem a carteira.

Tabuleiro do Falcon

Quadrinhos Falcon

Comercial dos brinquedos Falcon

Um fato curioso, é que na época do seu lançamento nos EUA, Falcon era uma figura militar, porém mantinha uma barba gigante, algo que não é característico do militarismo e mesmo hoje em dia é permitido apenas para unidades de operações especiais e não para tropas convencionais. Aliás, será que os Special Forces da atualidade eram fãs do Joe original? Brincadeiras à parte, é sabido que as forças especiais utilizam barba grande para melhor imersão na região em que mais operam atualmente, o Oriente Médio. Qual era a desculpa do Falcon nos anos 60?

O ano de 1984 foi marcado pela derrocada do nosso herói barbudo. Com a chegada de outras coleções em escala menor, que além de mais baratas, tinham a seu favor desenhos vinculados na tv, nosso amigo Falcon colocou as barbas de molho (não podia perder essa). Infelizmente, com a descontinuidade da série, alguns personagens como Triton e Laserman, que já estavam prontos para serem lançados, nunca viram a luz do dia. Tenho curiosidade em saber que fim levaram esses protótipos.

Figuras não lançadas

Em 1994 a Estrela tentou um revival da linha de 30 cm., lançando a coleção "Comandos em Ação: Clássicos Falcon". Na verdade, uma falcatrua da Estrela, pois a linha não era inspirada no Falcon e sim na linha "Hall of Fame" dos Joes americanos. Acho que a linha não fez muito sucesso, pois lembro de tê-la visto por muito pouco tempo no mercado, em quantidade pequena. Perto da virada do milênio, a Estrela tentou novamente emplacar uma coleção na escala 1/6, porém a iniciativa foi ainda pior. A caixa com o título "Força de Ataque" era digna de pena, de tão ruim. Pior que isso, só a qualidade dos personagens, vários soldados e ninjas genéricos, além de uns clones do Torak mais medonhos que cachorro-zumbi-pegando-fogo-na-chuva.

Comercial de 1994

Nos Estados Unidos, vira e mexe a Hasbro lança edições comemorativas do seu Joe original, tanto na escala 1/6, quanto na escala 3 3/4. O mais recente filme dos comandos, G.I Joe Retaliation, também ganhou alguns lançamentos na escala 1/6, porém sem a mesma qualidade da linha original.

Por falar em G.I Joe Retaliation, ou G.I Joe: Retaliação, nome do filme no Brasil, muitos podem não saber, mas o nosso querido Falcon, ou Joe Colton, deu as caras na película, sendo imortalizado por Bruce Willis. General Joseph B. Colton, ou Joe Colton para os chegados, foi o primeiro G.I Joe, sendo apresentado pela primeira vez com esse nome em 1989, no número 86 da primeira série de quadrinhos dos G.I Joe, publicados pela Marvel. Mesmo aposentado, ajudou a novos Joes por diversas vezes, inclusive liderando os comandos por um tempo, quando o General Hawk ficou afastado, após ficar paralítico em um confronto com o Comandante Cobra. Voltando ao segundo filme dos Joes, pessoalmente gostei muito mais desse do que do primeiro, mas bem que poderiam ter "flocado" a careca do Bruce Willis para ficar parecido com o nosso Falcon, o que acham?

Um Falcon duro de matar

Joe Colton nos quadrinhos

File Card da versão 3 3/4

De uns anos para cá, a escala de action figures em 1/6 tem sido bem representada pelas fabricantes Hot Toys e Sideshow Collectibles. Graças a um acordo entre a Hasbro e as duas empresas, os Joes, como precursores da escala, não ficaram de fora. Já fomos brindados com diversas figuras da linha clássica e também das versões do cinema. Eu tenho um Snake Eyes da Sideshow e posso dizer que é fantástico. Recentemente a Hot Toys lançou uma versão do General Joe Colton, inspirada em Bruce Willis, quem sabe a Sideshow não se empolga com a ideia e lança uma versão repaginada do Falcon original, seria demais.

Então é isso pessoal, como colecionador e admirador de action figures, eu não poderia ficar sem escrever, e de certa forma homenagear Joe Colton, o nosso Falcon. O pai das action figures merece lugar de destaque aqui no Coleção em Ação e também na memória de todos que amam o universo do colecionismo.